Crítica Teatral por Francis Fachetti. Espetáculo: “CÁLCULO ILÓGICO”. ESPETACULO NECESSARIO.COM.BR

“O SENHO SUPERIOR POSITIVO NEUTRO”, numa adequação matemática/cálculos, que se torna redentora.

Um drama existencial/familiar, onde o “SENHOR SUPERIOR POSITIVO NEUTRO”, numa citação no discorrer do espetáculo, sublinhada várias vezes, criada pela própria atriz e autora, como uma súplica, uma “arma irônica”, diante do drama da perda do seu irmão, vítima de um atropelamento em sua bicicleta por um ônibus.

“CÁLCULO ILÓGICO” está em cartaz no Centro Cultural Laura Alvim, com direção do respeitado Daniel Herz, tendo como intérprete e dramaturgia a paulista Jéssika Menkel. Sexta à domingo, até 05/05. Direção de produção: Maria Siman.

O espetáculo configurado num monólogo autoficcional, mergulha na criativa e inventiva ideia de se concretizar através de fórmulas matemáticas, em metáforas existências, e na dolorosa relação números e trajeto pessoal, sendo a ficção, à essência da atriz, protagonistas estonteantes que surpreende. 

Fórmulas, cálculos, amor, dedicação, racionalidade, ajustes e desajustes familiares, em emoções, nos transportam para cena em vertigens rápidas e ocupação precisa do intimista espaço cênico.

O mais importante e tem que ser destacado: o espetáculo passa longe da pieguice, da autopiedade, nada hermético, tendo a matemática por cálculos, o contraponto dessa comovente e atravessadora cena teatral.
Em cena a personagem relembra, revive, calcula acontecimentos e expõe em números a eliminação descabida de seu irmão.

Enxerga por meio de uma lógica numérica, analisa probabilidades e busca razões numa exatidão em números, para se imbuir de forças para viver.
Jéssika Menkel em seu universo numérico, influenciada pela destreza desse  mundo particular do irmão amado e perdido, constroe uma narrativa/dramaturgia e uma personagem de resignificação da sua dor, sua essência, se reinventando e inserindo sua família na luta/trajetória, num transpor absoluto e absorvido numa catarse redentora, imbuída de força, coragem, delicadeza perigosa confrontada com seu talento e resiliência, não deixando sua vida e seus ideais arrefecerem. Numa direta oratória com o espectador.

O nível de reflexão de sua escrita, a leva para um momento cênico híbrido, maduro, matizado corporalmente e emocionalmente. Uma “severidade” cênica em redenção vultosa, acepção íntima e interiorizada com espasmos musculares no seu imagético mundo.

Daniel Herz se debruça no vigor textual, na ousadia  desnudada na emoção que a atuação da atriz nos envolve, baseada numa dor real.

A coragem de Jéssika aliada ao preencher talentoso de uma encenação conduzida por Daniel, em fôlego profundo, e no certeiro caminho preenchido por Herz.

Uma alquimia sensorial, teatralizada por Menkel/Herz. Encenação ocupada na totalidade espacial e no interagir com o público, investigando memórias, sentidos e sentimentos, num abismo tênue que poderia chegar a um melodrama barato. Ao contrário, a pieguice passa longe, reafirmo.

Figurino e cenário de Thanara Schonardie simplifica com simplicidade manual, nos remetendo à família, à dor da perda e a cumplicidade. Figurino costurado com peças de roupas sobrepostas, como uma camisa do irmão, fazendo os “farrapos” gritarem por socorro e redenção.  O cenário em cubos de madeira, servindo para ilustra inúmeras situações, uma bicicleta destroçada que fica num canto da cena como arquétipo da subtração do amor,  nos dá à dimensão clara de laços, dramas e amores evidenciados.

Um trabalho executado em cena pelo diretor e atriz, num corpo incisivo e voz pegada na emoção, sem demove-la da verdade, sem dramalhão. Thanara nos dá um trabalho de carpintaria teatral, significativo,  sem o aparente brilho material, porém, brilhante na eficiência. Éric Camargo coloca na medida exata uma trilha sonora adequada. Aurélio de Simoni busca na simples locação ambientada, uma luz que enlaça o todo.

“CÁLCULO ILÓGICO” é matemática, números, cálculos “exatos”, e o mais interessante e necessário, que se apresenta em arte, teatro na simplicidade, com a guarida de um trabalho em “lamentação”, poesia melancólica pungente sem ser piegas.

Ilógico é a lógica na lisura, como “O SENHOR SUPERIOR POSITIVO NEUTRO” de Jéssika nos permite, e foi a maneira que a família Menkel enxergou e nos permitiu enxergar. Bravo!

Ficha Técnica:
– Texto e atuação: Jéssika Menkel.
– Direção: Daniel Herz.
– Assistente de direção: Gabriela Chechia e Tiago Herz.
– Cenografia e figurino: Thanara Schonardie 
– Assistente de cenário e figurino: Natália Fonseca.
– Iluminação: Aurélio de Simoni.
– Direção musical: Éric Camargo.
– Preparação Vocal: Jane Celeste.
– Design gráfico: Bruno Niquet e Sheila Gelsleucher.
– Produção: Jėssica Menkel e Primeira página produções.
– Direção de produção: Maria Siman.
– Assessoria de Imprensa: Catharina Rocha.

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