– CRÍTICA TEATRAL: Samir Murad

“O CACHORRO QUE SE RECUSAVA A MORRER”

Texto e Atuação: SAMIR MURAD

Direção: Delson Antunes e Samir Murad

 

 

 

Recomendo com muita ênfase esse trabalho cênico em cartaz em um dos palcos que se tornou dos mais necessários: Teatro Brigitte Blair – onde tive minha alma e meu corpo doado em muitos espetáculos, por muito tempo.

Diz o autor: “Meu foco aqui é a alma do texto e o diálogo com o público, através de cenas da minha familía, aspectos da cultura árabe – em gritantes conflitos com costumes brasileiros.  Começando pela submissão da mulher, intolerância religiosa, o poder do patriarcado.

Sim!!! O texto aborda essas questões por Samir de maneira coerente, envolvente, questionadora, se tornando reflexiva para o público. Através de projeções com fotos reais da familía, ele faz o pai protagonista com sua figura atoral tão necessária e esculpida para os palcos; um corpóreo de gestuais muito bem estudado e pesquisado com propriedade e expondo os dramas e alegrias de seus laços sanguíneos; eu disse alegria pelo simples fato de que o sobrenome paterno era: “MEHEM”, quer dizer ALEGRIA. Vejam que bela convergência teatral.

Em projeções que acompanham a cena, vozes, risadas, reclamações… um patriarca caxeiro andarilho impregnado em suas raízes, que diz em um dos áudios: EU NÃO ERA TRATADO COMO UM CAXEIRO, MAS, COMO UM CACHORRO”. Esse foi o âmago da dramaturgia de seu filho – SAMIR MURAD – que criou uma expoente deferência merecidíssima, com sua voz em áudio viril, vigorosa, exigente, dogmática e “roubando” a cena do ator Samir. Roubar no sentido de ilustrar com aquela ouriversaria cênica uma trajetória cultural de uma inteligência sagaz arquitetada pelo ator/autor.

Samir expõe a ancestralidade necessária a todos como fonte de informação, usando sua emoção pujante de modo distenso, informal, popular, acessível ao grande espectador.

“O Cachorro que se Recusava a Morrer”, era o SR. “MEHEM” – seu pai – que morreu dentro de um processo de envelhecer com diversas doenças crônicas.

Um texto ancestral, familiar, honesto, sincero nas palavras e na condução de suas veredas. A ancestralidade da cultura libanesa em meio às contundências religiosas, sociais, pessoais, de sensibilidade  aflorada e valores inquestionáveis ou não. Atitudes categóricas, firmeza de um povo. Tudo isso é colocado em cena fluidamente – abundante na verdade.

Figurinos e adereços por Karlla de Luca corroborando muito bem com a real história que se presencia.

Thales Coutinho nos seduz numa bela potência de luz chancelando essa incrível trajetória com sua iluminação de extremo necessária.

Trilha sonora fortemente árabe, linda!!! Por André Poyart e Samir Murad.

Meu Mestre: José Dias – digo assim por ele ter sido meu mestre em minha Pós-Graduação em Linguagem Teatral. Sua grandeza é resumida no minimalismo da sua cenografia. Seu nome deixa qualquer ficha técnica abarcada pelos melhores holofotes.

A direção de Samir e Delson Antunes é limpa, conectada. Delson Antunes desemboca nessa empreitada teatral despejando seu talento e conhecimento artístico.

Samir Murad está tão pleno em cena que consegue fazer de sua interpretação uma aula imbuído na sua ancestralidade.

Um corpo preparado, pesquisado. Um domínio de intérprete veterano. Exemplo de profissional das artes.

“O CACHORRO QUE SE RECUSAVA A MORRER” é uma ilustração perfeita de uma familía totalmente enredada pelos valores de sua cultura.

Uma aula de valores arcaicos e contemporâneos.

SAMIR MURAD

 

 

 

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