– INÉDITA: Gustavo Gasparani – Ator e Diretor

O Blog/Site de Críticas Teatrais e de Dança

Apresenta:

O Blog/Site iniciou a temporada de Retrospectivas e INÉDITAS das inúmeras homenagens feitas aos artistas das artes cênicas em geral – teatro, dança, cinema, técnicos: Operários das Artes.

Projeto: “Entrevistas NECESSÁRIAS”, inserido nesse Blog/Site de Críticas Teatrais e de Dança, no começo da pande

O Operário das Artes da vez em sua Entrevista NECESSÁRIA -faz 40 anos de carreira atravessando as diversas linguagens artísticas -, e no momento encontra-se sob os holofotes no lindo e delicioso Teatro Poeira em cartaz com dois espetáculos: Na Direção de “Julius Caesar – Vidas Paralelas” e com seu solo/monólogo “Como Posso Não Ser Montgomery Clift”; ambos assistidos por esse Blog/Site de Críticas e classificado como:

Espetáculo NECESSÁRIO!

INÉDITA!

Ator e Diretor:

GUSTAVO GASPARANI

Gustavo Gasparani.

Gustavo Gasparani em cena no seu Solo/Monólogo:

“Como Posso Não Ser Montgomery Clift” e na Direção com:

“Julius Caesar – Vidas Paralelas”.

Ambos em cartaz nesse momento no Teatro Poeira: 12/05 a 25/06 e

05/05 a 25/06.

Com Direção e Dramaturgia de Gustavo Gasparani.

Em cartaz no Teatro Poeira – 05/05 a 25/05.

Essa é uma homenagem do Blog/Site de um momento cênico, que em meu olhar como artista e crítico é inefável, impactante para o cenário cultural – pela sua ousadia e assertivo documento cultural cênico.

Solo/Monólogo “Ricardo III”.

Direção: Sergio Módena.

Segundo Gasparani: “A maturidade foi com Ricardo III, ou seja, é com Shakespeare que dou os meus saltos mais arriscados e profícuos! Sinto isso, também, agora, com Julius Caesar – Vidas Paralelas”.

Entrando na Entrevista NECESSÁRIA Inédita com:

GUSTAVO GASPARANI.

Francis Fachetti – Gostaria que você discorresse no que achar imprescindível sobre os livros de sua autoria – obras de extremo necessário para o conhecimento do público.

Torne conhecido um pouco do teor de cada uma.

– “Em Busca de um Teatro Musical Carioca”, em parceria com Eduardo Rieche:

Gustavo Gasparani – Este livro contém quatro textos para teatro musical de minha autoria e de Eduardo Rieche: “Otelo da Mangueira”, “Opereta Carioca”, “É Samba na veia, é Candeia!” e “Oui, oui… A França é aqui! A revista do ano”.

Ainda temos um prefácio luxuoso de Tania Brandão sobre a história do teatro musical no Brasil.

– “As Matriarcas da Avenida”.

Gustavo Gasparani – Livro de crônicas sobre as escolas de samba Portela, Mangueira, Império Serrano e Salgueiro – as quatro “grandes” escolas de samba, como eram conhecidas nas décadas de 60 e 70.

Organizado e escrito pelo jornalista Fábio Fabato, conta ainda com outros autores: João Gustavo Melo, Luis Carlos Magalhães, Luiz Antônio Simas e eu.

– “Três Poetas do Samba-Enredo”, em parceria com Rachel Valença e Leonardo Bruno.

Gustavo Gasparani – Livro editado pela Cobogó – narra a trajetória de três dos maiores compositores de escolas de samba, cujas obras foram e são cantadas pelo povo até hoje.

São eles: Aloísio Machado, do Império Serrano; David Côrrea, da Portela; e Hélio Turco, da Mangueira.

Com prefácio do jornalista Sérgio Cabral, o livro foi escrito por Rachel Valença, Leonardo Bruno e eu.

– “Amir de Todos os Teatros”, organização Claudio Mendes e Gustavo Gasparani, a partir de textos de Amir Haddad.

Gustavo Gasparani – Textos e pensamentos de Amir Haddad sobre o teatro, organizados por Claudio Mendes e eu.

O livro é dividido em três capítulos. No primeiro o jornalista e crítico Daniel Schenker traça um panoroma sobre a carreira de Amir. No segundo, o leitor é convidado a “entrar” numa sala de ensaio com o mestre e acompanhar, junto aos atores, os seus direcionamentos e ideias. No terceiro capítulo, Amir expõe o seu pensamento desenvolvido ao longo dos anos sobre arte pública.

Francis Fachetti – Qual o seu olhar – o raio x de Gustavo Gasparani – sobre seus personagens e participações nas linguagens televisivas e cinematográficas?

Gustavo Gasparani – A minha participação no audiovisual foi menos intensa e regular que no teatro, embora, sempre muito prazerosa, não sinto que tenha desenvolvido um esilo de linguagem.

Comecei nos programas de humor, como: A Grande Família, Casos e Acasos, entre outros, e depois fiz algumas minisséries e novelas. Destaco: “Sítio do Pica-pau Amarelo”, “Cheias de Charme”, “Anos Rebeldes”, “Dalva e Herivelto”, e alguns “Você Decide”.

Ano passado participei da série “Sob Pressão e, no próximo dia 22 de maio, estreio a 17ª temporada da série “Detetives do Prédio Azul”.

No Cinema estreei em “Orfeu do Carnaval”, de Cacá Diegues, e fiz mais alguns outros filmes – com destaque para “Orquestra dos Meninos”, de Paulo Thiago, e “Divinas Divas”, de Leandra Leal.

Personagem Zeca Diabo – “O Bem Amado”.

Francis Fachetti – Como roteirista e diretor do documentário “Divinas Divas” – um legado de empoderamento desse clã -, expresse o que achar relevante nessa vitrine documental da nossa cultura.

Gustavo Gasparani – O documentário foi dirigido pela Leandra Leal.

Um trabalho de enorme relevância que tenho muito orgulho de ter participado.

Fui convidado para dirigir o show que foi filmado para o documentário.

O convívio com aquela primeira geração de artistas travestis foi uma experiência única e transformadora. Criei amizades e aprendi muito.

Faço questão de citar o nome de todas:

Rogéria, Jane Di Castro, Divina Valéria, Brigitte de Búzios, Marquesa, Eloína, Fujika de Halliday e Camille K.

Francis Fachettti – Tournées nacionais e internacionais com a Cia. dos Atores – onde foi um dos fundadores. Conte um pouco dessas necessárias veredas com essa renomada Cia. Teatral que se colocou em diversos países – para o público desse projeto se imíscuir ainda mais nessas histórias culturais que nos dá identidade.

Gustavo Gasparani – Para contar todas essas hirtórias precisaria escrever um livro…rsrs.

Viajamos o país todo com os nossos espetáculos em turnês e festivais. Isso é muito enriquecedor pois nosso país é continental, com uma cultura plural, diversa.

Minhas primerias viagens internacionais foram com a Cia. primeiramente pela América Latina e depois EUA e Europa. É uma batalha , uma ralação esse tipo de viagem. O glamour fica por conta da história apenas…rsrs, mas, é uma experiência fantástica!!

A Cia obteve prêmios internacionais importantes. Vou destacar a turnê de 2001, para o fetival de teatro hispânico. Foram dois meses de turnê, com histórias muito marcantes.

Começamos por Maiami e depois: Fort Lauderdale, Nova Iorque e San Juan, em NY – nos apresentamos na emblemática rua 42, na Broadway, o que rendeu uma foto minha na capa do caderno de cultura do jornal The New York Times, com uma crítica especialmente elogiosa.

Em seguida, fomos para Portugal, no festival de Almada. Para quem não havia saído da América Latina, foram dois meses muito movimentados e cheios de emoção.

E para descansar de tudo isso, fui conhecer Paris. Ulalá!!

Francis Fachetti – Comente sobre esse destaque no caderno cultural do Jornal New York times pela sua participação no espetáculo “Melodrama”.

Gustavo Gasparani – Para um cara que só tinha ido à Argentina e Colômbia, até então, foi um impacto.

A história já foi narrada na pergunta acima. Mas foi bom ler The Brazilian actor, Gustavo Gasparani… rsrs.

“Melodrama” – Personagem: Conde de La Roche Foucault.

“Melodrama” com Bel Garcia.

“Melodrama” – Elenco com Filipe Miguez e Enrique Dias -, camarim.

Francis Fachetti – Destrinche, explique sobre seus trabalhos lindos, necessários, com os musicais – detentor de vários prêmios – a seguinte frase: “Desenvolve um trabalho de pesquisa e busca por uma dramaturgia genuinamente brasileira”, sendo instrumento de estudo para dissertações e teses de doutorado.

Gustavo Gasparani – A minha relação com o teatro musical está diretamente ligado à música brasileira.

Sempre fui um amante e pesquisador da história da nossa música, desde criança. Primeiro com o samba, através das escolas de samba, depois da própria MPB – Gal, Bethânia, Elis, Chico e Caetano eram as referências que vinham dos irmãos maios velhos.

Martinho, Clara, Paulinho, Beth e Alcione foram as primeiras descobertas com as minhas próprias pernas.

Diante da riqueza da nossa música, despertei um entusiasmo e um desejo por pesquisar, experimentar, o que de dramaturgia eu poderia extrair dessa relação teatro/música brasileira, e foi assim que surgiu “Otelo da Mangueira”, uma fusão da poética shakespeariana com a poesia dos compositores mangueirenses.

“Otelo da Mangueira”.

Personagem: “Dirceu / Iago.

Com Marcelo Capobiango e todo elenco.

Em seguida, vieram “Opereta Carioca”, “Oui Oui… A França é Aqui!”, “As Mimosas da Praça Tiradentes”, “Samba Futebol Clube”, “SamBRA – 100 anos de samba!”, “Bem Sertanejo”, “Zeca Pagodinho – Uma História de amor ao samba”, “Aquele Abraço – Gilberto Gil” e “Romeu e Julieta ao som de Marisa Monte”.

Meu último trabalho nos musicais foi a primeira série teatral, em parceria com a Aventura Entretenimento, “Vozes Negras – A força do canto feminino”.

“Vozes Negras – A Força do Canto Feminino”.

“Vozes Negras – A Força do Canto Feminino”.

Se for examinar com atenção, você perceberá que a partir da relação do teatro com a música – nesses espetáculos musicais -, pude falar do subúrbio e dos morros cariocas, da influência francesa no Brasil; da história da Praça Tiradentes, através dos artistas transformistas, em um impensado, até então, espetáculo LGBTQIA+, encenado há 12 anos atrás; das histórias do samba e da música caipira, ou seja, do Brasil popular; do nosso rei do pagode, Zeca Pagodinho, e de toda a cultura suburbana; de racismo e do empoderamento das mulheres negras num musical-debate inspirado no teatro de Augusto Boal.

Enfim, como dramaturgo sou um pouco historiador e pesquisador. Meu teatro é social e político na sua essência mas nunca panfletário, pois, sou pela arte, suas linguagens e seus meios de transformação.

Como diz o meu querido mestre, Amir Haddad: “o teatro é filho da história e não da ideologia!”.

“Opereta Carioca”, com Soraya Ravenle.

“Oui Oui… A França é Aqui!”, com Solange Badin.

Com todo elenco: “Oui Oui…”.

Gustavo Gasparani em: ”As Mimosas Da Praça Tiradentes”.

“Samba Futebol Clube”.

“SamBRA” – O Musical”.

100 Anos de Samba.

“Zeca Pagodinho – Uma História de Amor ao Samba”.

“Zeca Pagodinho – Uma História de Amor ao Samba”.

“Notícias Cariocas” com:

Marcelo Valle e Cesar Augusto.

“Notícias cariocas” com:

Drica Moraes eMarcelo Valle.

“O Rei Da Vela”.

Personagem Tia Polaca.

Francis Fachetti – Assisti os necessários e reflexivos espetáculos que você protagonizou: “Édipo Rei” de Sófocles com direção de um dos nossos potentes artistas – Eduardo Wotzik – e o solo “Ricardo lll” com direção do não menos potente Sergio Módena.

Preciso que você discorra um pouco sobre esses trabalhos para o leitor de sua Entrevista NECESSÁRIA. Aliás, “Ricardo lll” desencadeou uma crítica do prestigiado professor da NY University – Marvin Carlson: “Uma montagem maravilhosa, extraordinária! É um desafio estimulante para um ator e, igualmente, estimulante para a plateia ver o que Gustavo Gasparani, sozinho, pode fazer”.

Gustavo Gasparani – Os clássicos, especialmente as tragédias, sempre foram os meus textos preferidos.

O desejo de montar Édipo surgiu em 1991, quando ensaiava Bonitinha Mas Ordinária, de Nelson Rodrigues, com Wotzik. Ele me orientou que lesse a tragédia de Sófocles para ajudar na compreenção do meu personagem, Edgar, na peça de Nelson. Acabamos montando Édipo Rei 22 anos depois…rsrs. Estava me preparando…rsrs.

Era um elenco extraordinário: Eliane Giardini, Amir Haddad, Rogério Fróes, Pietro Mário, Cesar Augusto e Fabianna Mello e Souza.

“Èdipo Rei” – com Eliane Giardini.

Direção: Eduardo Wotzik.

“Édipo Rei” com todo elenco.

Direção Eduardo Wotzik.

Ricardo III veio na sequência. A princípio, quando o Serginho me chamou, não gostei da ideia – embora fosse o primeiro personagem de Shakespeare que quis interpretar, não queria iniciar uma outra produção tão grande, logo após o processo do Édipo. Mas aí, Serginho me seduziu com um desafio: “Não será uma grande produção. Quero fazer com você apenas. Um monólogo!”. O resto é história.

Durante seis anos ficamos em cartaz e foi um divisor de águas na minha carreira.

A primeira grande virada havia sido com Otelo da Mangueira.

A maturidade foi com Ricardo III, ou seja, é com Shakespeare que dou os meus saltos mais arriscados e profícuos! Sinto isso, também, agora, com Julius Caesar – Vidas Paralelas.

“Ricardo III”.

Direção: Sergio Módena.

“Ricardo lll”.

Com o prestigiado Professor Marvin Carlson da NY University, após a sessão de “Ricardo lll” com sua crítica: “Uma montagem maravilhosa, extraordinária! É um desafio estimulante para um ator e, igualmente, estimulante para a plateia ver o que Gustavo Gasparani, sozinho, pode fazer”. E ainda, com:

Professora Liana Leão e o Professor Carlos Alberto Serpa.

Francis Fachetti – Seus mais recentes trabalhos:

O premiado e necessário “Vozes Negras” – A Força Do Canto Feminino”, tendo você como idealizador, autor e diretor e o seu solo “Como Posso Não Ser Montgomery Clift”, sobre a vida do ator Montgomery Clift, dirigido por Fernando Philbert, e o espetáculo “Julius Caesar – Vidas Paralelas”, com sua dramaturgia e direção a partir da peça de Shakespeare para a Cia. dos Atores.

Por favor, fale um pouco desses trabalhos que fortalecem nossa cultura nos dando ainda mais identidade com suas linguagens tão peculiares.

Gustavo Gasparani – Os três trabalhos citados acima têm uma ligação em comum. São trabalhos politicamente potentes que falam de racismo, feminismo negro, homofobia e da relação do homem com o poder em suas diversas esferas. Vou discorrer sobre cada um deles, abaixo:

“VOZES NEGRAS” – Todo artista deve falar das questões que mobilizam a sua época e que são caras à sociedade em que ele vive.

Foi pensando assim, e, totalmente, arrebatado pelo livro “O feminismo é para todo mundo”, da intelectual negra, crítica cultural e escritora norte-americana Bel Hooks, que idealizei o espetáculo “VOZES NEGRAS – A Força do Canto Feminino”. Na ocasião, eu estava cursando bacharelado em artes cênicas, na faculdade da CAL, e estudava o teatro de Augusto Boal. Então, me inspirei livremente nos fundamentos do teatro Fórum, um teatro político e social, para criar o conceito do “teatro fórum musical” – uma mistura de gêneros teatrais, onde, através das histórias das cantoras pretas da música brasileira, discutiremos a situação da mulher negra em nossa sociedade.

Ao iniciar os meus estudos, percebi que os diversos períodos da música brasileira traziam questões diferentes em relação ao sexismo, ao racismo e ao mercado fonográfico, enfrentadas por nossas cantoras homenageadas. Dessa forma decidi fazer uma série dividida em seis espetáculos, cada um contemplando um período da história da música e entremeado por um debate entre o público e uma intelectual negra convidada.

Participaram da primeira temporada: Flávia Oliveira, Jurema Werneck, Ana Paula Xangoni, Eliane Dias, Erica Malunguinho, entre outras.

“Vozes Negras – A Força do Canto Feminino”.

“COMOM POSSO NÃO SER MONTGOMERY CLIFT?” – É uma alegria poder comemorar os meus 40 anos de carreira em um espetáculo que reflete sobre a condição do ator e, ainda, discute a homofobia na indústria do entretenimento.

A bela e poética abordagem do autor, Alberto Conejero López, nos faz enxergar o homem por trás das capas de revistas, dos programas de fofocas e dos red carpets. Como encontrar forças para se reerguer enquanto o sistema explora e lucra com a sua queda e a sua fraqueza?

Vivemos isso intensamente na Era das mídias sociais, em que o público e o privado se atropelam. 

Revelar ao espectador o outro lado do ofício do ator, sem glamour e sem máscaras, parece-me necessário e urgente.

Se a dificuldade em lidar com a profissão leva o personagem ao abismo, é a paixão por essa mesma profissão que o faz emergir de suas profundezas e continuar. Como diz Clift, na peça:

“Quando a luz se apagou, nunca mais houve outra felicidade se não aquela, a estúpida felicidade de ser outro.”

Nada melhor do quer ser outro para nos libertarmos de nós mesmos.

Gasparani / Montgomery.

Em cena como Montgomery Clift.

Gasparani em cena como Montgomery Clift.

Em cena como Montgomery Clift.

Em cena como Montgomery .

“JULIUS CAESAR – VIDAS PARALELAS” – Com a tragédia de Júlio César, Shakespeare foi à Roma antiga para falar de seu tempo.

Com “Julius Caesar – Vidas Paralelas” a Cia dos Atores, mais uma vez, vai a Shakespeare para falar da nossa época, das questões do poder que tanto afligem a humanidade ao longo de sua existência.

Desde a primeira vez que li a clássica peça do Bardo, me chamou a atenção a relação existente entre as questões da política no âmbito governamental e as micropolíticas relacionadas à convivência cotidiana. De como o humano é atingido e afetado por essas mesmas questões, estejamos em Roma, na Dinamarca, no Brasil; seja entre reis, imperadores, ou mesmo, numa companhia de teatro contemporâneo, na cidade do Rio de Janeiro.

Após 7 anos de “namoro” com a ideia do projeto, Julius Caesar – Vidas Paralelas foi, então, escrita durante a pandemia; o que influenciou definitivamente o seu “destino”, pois ao discutir as relações de poder, acabou tornando-se uma homenagem ao teatro e a arte.

Na peça original de Shakespeare, todos os personagens lutam uma batalha inglória e estéril. No final, não há vencedores. Todos perdem para a ganância, para a voracidade do poder da velha Roma. Enquanto, nas “Vidas Paralelas” da nossa peça – a Cia de teatro fictíci -, apesar de seus inúmeros infortúnios, resiste e se transforma.

A arte salva! Sempre salva! E é com ela que queremos contribuir para transformar e melhorar a nossa sociedade.

Evoé, Baco! Evoé Cia dos Atores pelos seus 35 anos de vida.

“Julius Caesar – Vidas Paralelas”.

Direção e Dramaturgia: Gustavo Gasparani.

Direção de Produção: Claudia Marques.

Francis Fachetti – Gostaria que falasse sobre seu olhar em sua interpretação de Montgomery Clift; na direção de Fernando Philbert. Montgomery é pouco ”falado”, conhecido, até no meio artístico, valioso esse seu resgate.

Ele era imbuído em uma história que converge sucesso, tragédia…

Gustavo Gasparani – Montgomery Clift foi um extraordináro ator surgido nos anos 40/50.

Segundo a atriz Jane Fonda, Monty, como era chamado pelos amigos, provocou uma revolução comportamental nos padrões do homem americano de sua época.

Com sua interpretação intimista, intensa e ao mesmo tempo frágil, trouxe uma maneira mais moderna de atuar diante das câmeras. Soma-se a esse talento, uma beleza extraordinária! Munido dessas armas, ditou as regras em Hollywood.

Tinha um total domínio de seus contratos e roteiros, podendo até alterar suas falas quando necessário. Foi o primeiro bad boy do cinema, influenciando gerações e arrebatando multidões. Não haveria Marlon Brando, nem James Jean – sem antes exstir Monty Clift.

No auge do sucesso, sofre um acidente de carro que marca definitivamente o seu rosto e a sua vida. A partir daí, inicia-se o que é considerado o suicídio mais longevo de Hollywood. Remédios, álcool, drogas, enfim, um coquetel com passaporte para o sofrimento e a decadência. Tudo divulgado sordidamente pela imprensa sensacionalista da época.

Sua orientação sexual foi vastamente explorada para vender tablóides e criar factóides. A peça trata deste homem à beira do seu precipício. E foi focado neste olhar sobre o humano que o diretor, Fernando Philbert, me orientou na sala de ensaio para buscarmos a personagem.

O meu processo de criação se deu através das palavras de Conejero. Parti de seu belo e poético texto para me lançar neste penhasco/precipício chamado Monty Clift.

Devorei livros, documentários e assisti a todos os filmes disponíveis, diversas vezes. Em nenhum momento me preocupei em imitar gestos, trejeitos ou voz. Desejei entender a alma desse personagem. E quanto mais assistia aos filmes mais crescia em mim um sentimento de amizade, de compaixão, por aquele ator extraordinário que se perdeu para o violento e cruel padrão do star system americano.

Como um jovem ator tão talentoso e tão belo havia se desconectado tanto de si mesmo? Como passar a vida lutando para ser o que se é quando o mundo impõe uma outra máscara a você? Como sobreviver a um acidente que te marca o rosto de 250 mil dólares? Como ser gay nos homofóbicos anos 40/50? Enfim… Como posso não ser Montgomery Clift?

Gustavo Gasparani / Montgomery Clift.

Francis Fachetti – Seu olhar na escrita dramaturgica feita por você de “Julius Caesar” e a interpretação impactante dos atores.

Gustavo Gasparani – A questão dramatúrgica já foi respondida acima. Vou focar nos atores.

A peça possui dois universos específicos: O texto original de Shakespeare e a história do grupo de teatro ensainado este texto.

Dirigi os atores para que transitassem entre o estilo épico (para o texto do Bardo) e o drama piscológico americano, com referências em Tennessee Willians, O’neil e Albee (para a companhia de teatro).

Trabalhamos muito para que os atores se apropriassem do texto de Shakespeare sem perder a poesia. Por outro lado, na história do grupo teatral, buscamos um mergulho vertiginoso nos embates, nas brigas – também, queria os atores à beira do abismo. Palavras ditas sem medir as consequências, sem filtros, como numa relação familiar em crise, desestruturada.

Cesar Augusto, Suzana Nascimento, Gilberto Gawronski, Isio Chelman, Tiago Herz e Gabriel Manita.

Francis Fachetti – Terminando com chave de diamante essa prazeroza entrevista/reflexão/documento cultural… nos revele e divulgue sua agenda para frente e quando volta a cena esses necessários espetáculos?

Gustavo Gasparani – Estamos retomando as duas peças no teatro Poeira.

Ocuparemos o horário nobre das duas salas. Dia 04/05, estreia “Julius Caesar – Vidas Paralelas”, no Poeira, de 5ª a sábado às 20h, domingo às 19h.

Dia 12/05, estreia “Como posso não ser Montgomery Clift?”, no Poeirinha, de 6ª a sábado às 20h e domingo às 19h.

Estou muito feliz em retomar com as duas peças numa data tão significativa para mim, comemorando os meus 40 anos de profissão.

Espero vocês no teatro. Ingressos pelo site Symplabileto ou na bilheteria do teatro Poeira. Apareçam!!

Simplesmente:

GUSTAVO GASPARANI.

Show CommentsClose Comments

Leave a comment